sábado, 9 de abril de 2011

Robert Johnson: Vida e obra




Olá!

Depois de um longo tempo ausente do blog, nas correrias e transformações da vida, posto um clip da apresentação de estréia do meu show "Na encruzilhada do blues - Tributo à Robert Johnson". A apresentação foi na Oficina Cultural Grande Otelo, em Sorocaba, SP.
No ano em que completaria cem anos não tivesse sido assassinado aos vinte e sete anos, resolvi pagar prazeirosamente (e trabalhosamente) essa dívida consigo mesmo. A obra desse lendário bluesman me acompanha desde muito jovem. Despertou meu interesse o fato de que quase tudo o que eu ouvia, ter pelo menos, referencia na obra desse gênio, quando não regravando suas canções. White Stripes, Rolling Stones, Eric Clapton, etc, prestaram seus tributos, e no caso de Clapton, dedicou um album e um DVD inteiros à releitura de mr. Johnson.
Evidentemente que na minha primeira juventude, quando tive contato com a obra, o fascínio vinha imensamente das lendas que cercavam a sua vida. Johnson nasceu em Hazlehurst, no estado do Mississipi. Há controvérsias sobre a data, mas oficialmente adotou-se o que consta na lápide de seu túmulo, o dia 08 de maio de 1911. Informações sobre sua vida e infância são bastante escassas e obscuras, mas do que se tem disponível, informa-se que, muito diferente do que acontecia com os negros daquela época, sobretudo no sul, Johnson era filho de um proprietário de terra, suficiente para a sobrevivência da família, e frequentou regularmente a escola durante três anos. Porém, repetindo um episódio muito comum na época, seu pai teve sua terra "grilada", e, ameaçado de morte, fugiu e nunca mais deu notícia. Sua mãe, Julia Dodds, casou-se novamente, mas a vida de pobreza e segregação extrema estavam de volta.
A grande lenda sobre sua figura, no entanto, é sobre um suposto pacto com o diabo, o qual é reforçado pelo própio Johnson em canções como "Me and the devil blues", "hellhound on my trail", e, sobretudo, da canção "Cross road blues".
Uma das características que provavelmente moldaram sua música, era o caráter itinerante de Johnson, diferentemente dos músicos que também eram agricultores, e apenas tocavam na sua própria região. Esse comportamento reforçava a idéia do pacto, porque Johnson sumia por alguns dias, e voltava tocando coisas novas e diferentes. Isso acontecia porque o músico absorvia o que ouvia em outros lugares como Chicago, New Orleans e Memphis, principalmente, e incorporava ao seu estilo, rompendo com os limites do delta blues, que ele fazia tão bem. Isso, mais o comportamento mulherengo e alcóolatra de Johnson alimentavam a idéia de que ele sumia para encontrar o diabo e assim tocar melhor, pois em uma semana voltava tocando de forma absolutamente nova. Essa diversidade de estilos é uma das coisas que impressiona na obra. Em apenas 29 canções gravadas, a variedade de estilos e diferentes técnicas empregadas na execução e composição torna a obra digna do seu lugar na história da música do século XX. O "estilo New Orleans" de canções suaves e rica em harmonia como "From four 'till late" contrasta com a agressividade pessimista estilo "Delta blues" de canções como "walking blues", ou "cross road blues", tão diferente do que deu as bases para o blues de Chicago, como a regravadíssima "Sweet home Chicago", com seu swing tão comum nos dias de hoje, mas absolutamente novo naquela região no período em que foi gravada.
Apesar de passar os últimos vinte anos da minha vida ouvindo regularmente Johnson, ainda não havia debruçado pra valer na tarefa de tirar suas músicas o mais próximo possível do original. E então a obra tomou outra dimensão como que em um passe de mágica. Ficou claro porque Mr. Johnson foi eleito pela revista Rolling Stones o quinto maior guitarrista de todos os tempo. Conta a lenda, que quando Keith Richards mostrou para Brian Jones (ambos guitarristas da banda Rolling stones) as canções de Robert Johnson pela primeira vez, Jones perguntou: "quem é o cara que tá tocando a outra guitarra?". Não havia outra guitarra. Johnson tinha uma técnica tão apurada, sobretudo no uso do polegar, que fazia soar como se houvessem dois violões tocando juntos. A profusão de afinações diferentes, belíssimos e diferenciados riffs, variações rítmicas, e a exuberante técnica do slide ou bottleneck, um cilindro de metal que se usa em um dedo da mão esquerda e desliza sobre as cordas imitando gritos e gemidos, muito comum naquela região, fazem a obra ser tão elementar na música popular feita depois de suas gravações. E a poesia de suas letras, transitando entre a tragédia e algum senso de humor como na quentíssima canção "They're red hot", fecham a perfeição de seu legado.
A sua morte precoce, violenta e sem registros muito precisos, acaba por completar o trágico legado dessa lenda. Segundo testemunhas oculares, principalmente seu parceiro Sonny Boy Willianson e Son House, seu grande mestre, Johnson foi envenenado com estricnina colocada no seu whisky pelo dono do bar em que ele estava tocando, por ele ter flertado com sua esposa. Johnson morreu três dias depois, em 16 de agosto de 1.938, com a complicação de uma pneumonia e a consequente falta de tratamento comum aos negros daquela região nessa época. No seu atestado de óbito, não consta a causa da morte. No local onde deveria constar, aparece apenas "no doctor", manuscrito.
Uma coisa está claro pra mim. Após essa travessia que escolhi para 2011, não serei mais o mesmo, com certeza como músico, mas a maneira que redescubro e amo ainda mais o blues, também. Mr. Robert Leroy Johnson, muito obrigado!!!!