segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Aborto e outros fantasmas

Esse é mais um e-mail que mandei recentemente, em resposta a uma afirmação que a Dilma é doida, terrorista e a favor do aborto. Como nas postagens anteriores, não citarei o e-mail recebido em respeito à privacidade do remetente. Quero atualizar aqui no blog as correspondencias eletrônicas que troquei ao longo da campanha para que fique claro minhas posições, e também por que acho que foi, na maioria das vezes, elegante e produtivo o embate de idéias. Segue a minha resposta:

Respeito seu voto, de verdade. Mas as informações sobre a Dilma são mentirosas, e convido-lhe a se informar em fontes seguras. Não pra mudar seu voto, mas pra embasar sua opinião. Não sei de onde vc tirou essa história de doida. Dilma sempre foi discreta e eficiente. Passou pelo governo do Rio Grande do Sul nos anos 90, e na gestão dela na secretaria de minas e energia, enquanto o Brasil todo amargava racionamento de energia e apagões (lembra?), o Rio Grande do Sul não foi incluído no racionamento e não teve apagão. E no entanto, nem se falou no nome dela. Ela gerenciou a crise como o governo do FHC e Serra não conseguiu fazer, e nem por isso personalizou essa conquista. Foi discreta. De tal maneira, que ela só  se tornou conhecida após assumir o cargo mais importante do governo Lula, a casa civil, que tem entre outras coisas, a função de articular todos os ministérios para trabalharem juntos e gerenciar os projetos de grande porte.
Quanto à questão do aborto, vou dar a minha opinião, não a da Dilma, que é um pouco diferente da minha.
Não posso conceber ninguém que seja A FAVOR do aborto, exceto talvez donos de clínicas clandestinas que ganham muito dinheiro realizando em torno de um milhão de abortos por ano no Brasil. Tenho duas filhas, que amo profundamente, e me alegro de não ter necessitado ou optado por realizar um aborto qdo elas foram concebidas.
No entanto, e nesse ponto minha opinião é um pouco diferente da opinião da Dilma, acho um obscurantismo completo ser uma questão criminal e não de saúde pública. Acho que deveríamos tratar como o Canadá e a maioria dos países da Europa, por exemplo, que autoriza o aborto de quem fizer essa opção, dentro de regras rigorosas (como já é lei no Brasil nos casos de estupro ou risco de vida da gestante), e em contrapartida investir em educação e prevenção para que se evite gravidez não planejada. Que as igrejas exortem os seus fiéis a não praticá-los, que tratem como pecado se assim entenderem. Isso é plenamente saudável e educativo.
Porém, misturar fundamentalismo religioso e estado é um erro histórico medieval. O Irã, o Afeganistão, os judeus sionistas (não confundir com todos os judeus, por favor), etc., estão aí pra mostrar o quanto deveríamos evitar essa mistura das coisas.
Se a idéia de algumas lideranças religiosas e alguns seguidores fanáticos for levada a sério, uma igreja que trata como pecado uma mulher usar calça comprida, por exemplo, deveria ter essa doutrina tornada lei, criminalizando todas as brasileiras que usarem calça comprida!
Nenhuma igreja cristã aprova a infidelidade conjugal, mas transformar isso em lei e punir os possíveis infiéis não é função do estado. Isso não quer dizer que sou a favor da infidelidade. Quer dizer que é um absurdo isso se tornar tema de debate político, de ser anseio de legislação. Isso é obscurantismo medieval.
Enfim, xará, como disse, não quero mudar o voto de ninguém simplesmente dizendo que minha opinião é a verdade a ser seguida. Estou sim lutando para compartilhar informação, porque o que vejo é desinformação, ou terrorismo de contra-informação...muitas coisas como essa, de dizer que a Dilma é doida e etc. Muito pelo contrário. Dilma è tremendamente careta e caxias. Mas defende o melhor projeto para o Brasil no momento. Isso não é só minha opinião. É a opinião da imprensa internacional, e de 80% dos brasileiros que tratam o governo do presidente Lula como bom ou ótimo.
Por não ter projeto para enfrentar essea popularidade e esse projeto, a oposição parte para a mentira, para a calúnia, para tentar demonizar uma candidata ou um partido. Se fossem bons, tivessem projetos, ganhariam a eleição, como foi no caso do FHC, que tinha projeto para o Brasil, projeto que sou crítico e não concordo, mas tinha projeto. E o Serra não tem.
É isso. Não me importo que discorde do meu ponto de vista, isso é bom, isso é debate, coisa que o resto dos serristas não estão fazendo.
Só pra lembrar: A Marina Silva e Dilma estiveram juntas no governo durante seis anos, um mandato e meio, uma como ministra do meio ambiente e outra como ministra de minas e energia e depois como ministra da casa civil, apoiando e gerenciando o mesmo projeto, filiadas ao mesmo partido. Marina saiu por divergencias na agenda ambiental e por perceber que não conseguiria espaço para se candidatar pelo PT à presidencia da república, já que o cargo de ministra da casa civil corresponde ao que é um primeiro ministro em alguns países, tornando Dilma a candidata natural.
Convido vc a comparar dados relativos ao governo Lula, que Dilma apóia e quer prosseguir. Trinta milhões de brasileiros deixaram a linha de pobreza extrema, e hj comem, estudam, ênfim, tem perspectiva de vida com dignidade humana. Isso, pra mim, é verdadeiramente ser a favor da vida

abraço

5 comentários:

  1. Aborto é questão de saúde pública por ser um grande problema em nosso país. Não é questão de ser a favor ou contra, mas de não fechar os olhos para uma realidade existente. É muito fácil dizer: sou contra; sou a favor...sem conhecer suas causas e consequências...
    Quantos proclamam ser contra o aborto simplesmente e ao mesmo tempo dizem: por que eles têm tantos filhos? É o contraditório da nossa sociedade...que nem lá, nem cá...
    Bem colocado: é preciso educação e conscientização para evitar uma gravidez não desejada. É preciso ação, movimento, atuação do Estado em seus problemas.

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  2. Pois é, Lidia, mais informação e menos hipocrisia só nos fariam bem...

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  3. isso aí, tem que falar mesmo, se a gente fica quieto é como se nem existíssemos. o que me entristece é que agora que as eleições acabaram, o fogo apaga, todo mundo esquece da importância do debate e a democracia só volta a ser lembrada daqui a 4 anos. quando deveria ser um exercício prático e cotidiano. eu sou mulher, eu tenho um filho, eu sou a favor da descriminalização do aborto. não acho justo uma mulher morrer por que ao chegar no hospital não é atendida por que a enfermeira acha que ela é uma criminosa. sim, é isso o que acontece, segundo uma revista de estudos de gênero. é uma das principais causas de morte entre mulheres. ter a coragem de resolver abortar não é das atitudes mais fáceis de se tomar - já não basta toda a maldição que a religião impõe sobre nós, mulheres? ainda temos que morrer no hospital?
    estado e religião não devem se misturar - embora exista um crucifixo gigante na maioria das câmaras. o resultado disso tudo é: se vc ainda é um pré-natal, ok. o estado defende sua vida de todas as formas possíveis. por que eles são pró-vida. mas se vc é um pré-escolar, vc está fodido. o estado só se importará com vc de novo quando atingir a idade militar. aí sim. o espaço entre o pré-natal e e os dezoito anos é um vácuo. sem escola, sem saúde pública, foda-se a qualidade da sua vida. o importante é que eles garantiram que a sua mãe seria presa caso ela tentasse te livrar dessa. sim, por que uma mãe, quando aborta, dada a violência desse prodesso, não está pensando só em si mesma. pode apostar que não.


    e a mulher do josé serra já abortou. ela contou a história pras minhas amigas na faculdade onde dá aula, quer dizer... quanta hipocrisia é possível!

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  4. Pois é, Priscila, cabe a nós continuarmos provocando o debate. Deixo este blog aberto para as manifestações e pretendo me manisfestar em qquer assunto que seja sugerido aqui. Essa campanha eleitoral trouxe muito obscurantismo, reacionarismo, ódio e segregação. Vc viu as manifestações contra nordestinos que pipocaram na internet após a eleição? Como comentei com um amigo, temos que fazer um debate reeducativo. Xenofobia, preconceito religioso, de gênero, etc... atrasos que eu acreditava que tinham perdido peso entre a gente... mas a modernização que o Brasil vem vivendo nos últimos anos foi interrompida nessa campanha. E o perverso José Serra e a parte do PSDB que o apóia, porque não é todo o PSDB, pode ter certeza, tem muita culpa nisso. Prestou um desserviço ao país. Adotar por puro interesse eleitoral bandeiras tão nefastas tem um efeito deseducativo, sobretudo na juventude. Vamos fazer o debate, com coragem e clareza. Obrigado pela sua manifestação.

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