domingo, 9 de janeiro de 2011

Migalhas

Resgatando um poema escrito há muito tempo, mas tão atual na minha vida. Esse é daqueles em que você se reconhece, mesmo depois de tanto tempo. Foi publicado em uma coletânea do Prêmio Piracicabano de Literatura. Incrível como um poema próprio reverbera na sensação, muito mais do que na compreensão. Não o entendo, mas não é pra isso que serve o poema. Ou é?

                                           Migalhas



Das encruzilhadas inevitáveis
da vida na corda bamba,
vida que eu mesmo escolhi,
abraço a sutileza incômoda
dos restos a entupir o quarto,
fragmentos de beleza
largados a esmo,
como migalhas num pombal,
flores jogadas numa calçada pisada,
e abraço a memória
como se fosse um fio
tênue a amarrar a vida,
nego a eutanásia em silêncio
e sorrio feliz pela coragem
minha, de partir e chegar
em momentos que nunca escolhi.

2 comentários:

  1. Tenho este poema encadernado com outros que você enviou para mim, em mil novecentos e tanto... confesso que, de alguma maneira, identifico-me com ele, embora, algumas vezes, falte-me a coragem. Um beijo. Eloah

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  2. Lindissimo Boi....Parabéns....


    "e abraço a memória
    como se fosse um fio
    tênue a amarrar a vida,
    nego a eutanásia em silêncio
    e sorrio feliz pela coragem
    minha, de partir e chegar
    em momentos que nunca escolhi"

    simplesmente: belissimo!

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